domingo, 24 de janeiro de 2010

Prāna & Prānāyāma


Prāna & Prānāyāma

Quando ouvimos a palavra Prāna, geralmente a associamos a energia vital, respiração etc.. Porém o prāna possui aspectos muito mais profundos do que apenas estes, o prāna é a essência que possibilita e controla toda criação, seja ela animada ou inanimada!.
No Prashnopanishad II:13 está escrito:Tudo que existe neste mundo, assim como o que existe no Céu, esta sob o controle do prāna. Proteja-nos ó prāna assim como uma mãe protege seu filho e conceda-nos esplendor e sabedoria.
No mesmo texto III:1 Kaushalya pergunta ao venerável Pippalada; Senhor, de onde nasce o prāna?, e para mencionar seu aspecto cósmico ele responde; o prāna nasce de Brahman, a realidade suprema e absoluta.
A palavra prāna é construída a partir de duas silabas “prā” e “ān”,
Ān significa movimento e “prā” é um prefixo que denota “constante”, portanto prāna significa aquilo que se encontra em constante movimento.
O prāna possui tanto um aspecto macrocósmico quanto microcósmico.
Em seu aspecto macrocósmico ele é denominado Mahā Prāna ou Consciência e está relacionado à dimensão transcendental.
Quando o Mahā Prāna é combinado aos atributos de Prakriti ou a natureza objetiva, ele é conhecido simplesmente como prāna e este é seu aspecto microcósmico.
Este prāna como a própria palavra diz representa o principio ativo e positivo dentro da criação e Mahā Prāna o principio passivo e negativo.
A filosofia Samkhyā denomina o Mahā Prāna como Purusha que literalmente que dizer, “aquele que dorme na cidade” e Prakriti literalmente “atividade”, por esta razão é dito que Purusha pode ver mas não pode andar e Prakriti pode andar mais não pode ver, a união destes dois princípios, cada um deles emprestando suas características ao outro é a causa e a origem de toda a criação!.
A combinação entre Mahā Prāna e Prakriti ocorre na dimensão causal e dá origem a Idā e Pingalā, duas das principais nādīs ou canais de energia que interpenetram os chakras ao longo da coluna vertebral, desde o mūlādhāra até o ājñā.
Pingalā é de natureza quente e esta relacionado com o sistema nervoso simpático e Idā é de natureza fria e está relacionado ao sistema nervoso parassimpático, Idā e Pingalā pertencem à dimensão sutil.
Idā é o condutor de Manas Shakti, a energia mental ou lunar e esta força governa a dimensão mental.
Pingalā é o condutor de Prāna Shakti, a energia vital ou solar e esta força governa a dimensão física.
Na dimensão física o Mahā Prāna dá origem aos pāncha vāyus, são eles: prāna vāyu, apāna vāyu, samāna vāyu, udāna vāyu e vyāna vāyu.
Cada um destes cinco prānas possui alguns aspectos mais densos ou fisiológicos e outros aspectos mais sutis.
A pratica dos prānāyāmas esta intimamente relacionada ao domínio dos vāyus em seus aspectos mais sutis.
Algumas pessoas dividem a palavra prānāyāma em prāna e yāma definindo assim a palavra como: controle do prāna, porém na realidade a palavra é composta de prāna e āyāma.
A palavra āyāma significa expandir, estender, prolongar etc. portanto prānāyāma é a técnica pela qual a quantidade de prana é expandida dentro do corpo do yogi através de uma prolongada inspiração, expiração e retenção.
Uma vez que Mahā Prāna e prāna são dois aspectos de uma mesma energia, o aumento do prāna produz no yogi um aumento no seu estado de consciência uma vez que o prāna empresta sua natureza ativa à consciência que é de natureza passiva.
Patañjali nos Yoga Sutras se refere ao prānāyāma como o ato de regular o fluxo da respiração que entra, da respiração que sai com a retenção.
Ao lermos este sutra é fácil confundirmos o prānāyāma com um simples exercício respiratório, porém como se trata de um sutra ou seja, um conhecimento extremamente condensado é obvio que existe um sentido muito mais profundo do que o aparente!
O segredo dos prānāyāmas é conhecido pelos yogis como “prāna nigrāha” ou a inversão dos prānas, normalmente o prāna é uma energia ascendente e o apāna uma energia descendente, no nosso estado natural um vāyu é repelido pelo outro mantendo assim a continuidade do nosso processo respiratório.
Porém na prática dos prānāyāmas estas energias são invertidas, prāna se torna descendente enquanto apāna se torna ascendente.
Com a ajuda de samāna vāyu prāna e apāna se unem no manipūra chakra e isto afeta diretamente udāna e vyāna tornando assim os cinco vāyus imóveis.
Por isso é dito no Yoga Chūdāmani Upanishad: Aquele que conhece o movimento de prāna e apāna é um Yogi no verdadeiro sentido da palavra!.
A imobilidade dos vāyus transforma a mente centrifuga em uma mente centrípeta, por isso diz Swātmārāma no Hatha Yoga Pradīpīka II:2 “enquanto o prāna se movimenta a mente permanece instável, inquieta, mas quando o prāna se torna imóvel a mente se torna imóvel e que esta imobilidade da mente é conquistada através da prática do prānāyāma”. Uma mente centrípeta gerada pela pratica correta do prānāyāma possibilita a pratica dos outros “angas” ou partes do Ashtānga Yoga de Patañjali: Pratyāhāra, Dhāranā, Dhyāna culminando no objetivo real do yoga, o Samādhi.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Liberdade ou prisão?



Devido ao nosso estado de consciência equivocado, muitas vezes aquilo que foi criado para nos libertar acaba se tornando mais um tipo de prisão em nossas vidas.
Podemos usar a meditação como um destes exemplos, devido a um estado de percepção equivocado podemos acreditar que a meditação nos proporciona paz, bem estar, serenidade bem-aventurança etc., ou seja, devido a este estado de consciência nos esquecemos que todos estes estados internos são inerentes ao nosso “Ser” e passamos a acreditar que é a meditação que os proporciona, fazendo assim que nos aprisionemos a meditação.
Nós nos esquecemos que a bem-aventurança é nossa verdadeira natureza, nosso estado natural e a meditação é somente uma das ferramentas que nos permite eliminarmos aquilo que não somos, aquilo que apenas temporariamente estamos e desta forma manifestarmos nossa verdadeira natureza, nossa verdadeira realidade, nossa verdadeira essência, pois como os textos dizem somos: “Sat Chit Ananda, ou seja, existência, consciência e bem-aventurança”.
Swami Muktananda costumava dizer: “Quando você abraça a pessoa que ama aonde você sente o amor, nela ou em você?”.
Claro que sentimos o amor em nós mesmos, e se sentimos o amor em nós mesmos ele é nosso e ninguém pode proporciona-lo ou tira-lo uma vez que este sentimento e inerente a nós mesmos.
Mas nosso estado de consciência equivocado faz com que acreditemos que alguém é responsável por este sentimento e então nos aprisionamos a esta pessoa.
Só quando entendemos que o amor é um sentimento intrínseco ao nosso “Ser”, podemos compartilhar este sentimento com os demais sem criarmos uma prisão para nós mesmos!
Muitos outros exemplos poderiam ser dados, porém todos eles têm a mesma raiz, o esquecimento de nossa verdadeira natureza, o que causa a identificação com o que nós estamos e não com o que verdadeiramente somos!
Ou como diria Patañjali, a identificação do observador com o objeto observado.
Toda a pratica do yoga se destina a reverter este equivoco nos libertando de uma vez por todas do cativeiro da ilusão, pois só quando nossa mente se torna serena e tranqüila ela pode refletir a nossa verdadeira natureza.

Om shanti shanti shantihi Om

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pratica


Certa vez havia um arqueiro que ia de vilarejo em vilarejo demonstrando suas habilidades com seu arco e suas flechas, um dia estava ele exibindo suas habilidades em uma destas vilas e um vendedor de óleo que observava sua demonstração a cada flecha que o arqueiro acertava no alvo o vendedor dizia, tudo é uma questão de prática, tudo é uma questão de prática.
Ao ouvir isto inúmeras vezes, o arqueiro se aborreceu e virando-se para o vendedor de óleo disse: “que história é essa de que tudo é uma questão de prática!”.
Pois ele considerava suas habilidades com um grande dom e não como algo adquirido pela pratica.
Então o vendedor de óleo retirou do bolso uma moeda que possuía um furo no meio, e pedindo uma garrafa para uma das pessoas da vila, colocou a moeda na boca da garrafa e sem derramar uma gota sequer de óleo para fora do furo na moeda despejou o óleo todo do recipiente que ele carregava para dentro da garrafa, ao terminar olhou para o arqueiro e disse; agora é sua vez!
Foi ai que o arqueiro entendeu que tudo nessa vida é mesmo uma questão de pratica.
Tudo aquilo que praticamos, ou seja, repetimos inúmeras vezes no tornamos bons!
Se repetirmos diversas vezes um asana complicado ele se tornara fácil, se treinamos uma retenção prolongada da respiração seja com os pulmões cheios ou vazios, depois de um tempo ela se tornara fácil e assim por diante, porém o maior equívoco que muitas pessoas cometem é o de só relacionar o ato de praticar a coisas externas e se esquecerem que estados internos também são uma questão de pratica.
Se repetirmos diversas vezes durante nossa vida a conduta de estarmos descontentes e insatisfeitos nos tornaremos bons nisso, se praticarmos o contentamento seremos bons nisso, se praticarmos a infelicidade seremos bons nisso e se praticarmos a felicidade seremos bons nisso e assim por diante.
Por isso façam uma reflexão e analisem quais os tipos de prática são mais constantes em sua conduta diária e lembrem-se, "tudo aquilo que praticamos inúmeras vezes no tornamos bons!"

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sanatana Dharma



O Hinduismo, ou melhor, “o Sanatana Dharma”, ou Lei Eterna nome original do que veio a ser conhecido como Hinduismo é um conjunto de idéias, práticas, religiosidade, filosofia, e aspectos culturais que se originaram na Índia e é caracterizado pelo conceito da roda das reencarnações (Samsara), de um “Ser Absoluto (Brahman) de múltiplas manifestações”, na lei de causa e efeito (Karma), seguindo pelo caminho da retidão (Dharma) e o desejo para a libertação do ciclo dos nascimentos e das mortes (Moksha).
Alguns estudiosos acreditam que o Hinduismo exista dês de 10000 a.C. e que a mais antiga das suas escrituras, “o Rig Veda” tenha sido composto bem antes de 6500 a.C.
A palavra “Hinduismo” não é encontrada em nenhum lugar nas escrituras, e o do termo; “Hindu” foi introduzido por estrangeiros ao se referiram aos povos que viviam do outro lado do rio Indus ou Sindhu, no norte da Índia, em torno do qual se acredita que a Cultura Vedica tenha se originado.
O Hinduismo é um modo de vida regido pelo Dharma, isto é, a lei que governa todas as ações e
tem seus próprios conceitos, tradições e um avançado sistema de éticas, rituais, filosofia e teologia.
A tradição Hindu é responsável pela criação de conceitos e práticas tais como o Yoga, o Ayurveda, o Vastu Shastra, o Jyotish, o Yajna, o Puja, o Tantra, o Samkhya, o Vedanta etc.
O Hindu tem sua conduta baseada na verdade, na honestidade, na não violência, na limpeza, no contentamento, nas orações, na austeridade, na perseverança, e na companhia dos bons.
Certa vez um homem se dirigiu a Paramahansa Yogananda dizendo, “eu sou Cristão e você o que é?”, Paramahansa Yogananda sorriu amorosamente e respondeu, “eu não roubo, não mato, não cobiço a mulher do próximo... e depois de mencionar os dez mandamentos olhou amorosamente para a pessoa e disse; como o senhor pode ver sou muito mais Cristão que o senhor!”.
As pessoas geralmente se apegam mais aos nomes, as crenças, aos rótulos do que a sua conduta, que o seu comportamento.

Om shanti shanti shantihi Om




sexta-feira, 17 de julho de 2009


Você afirma que seu primeiro contato com o Yoga foi em 1968 por influência de seus pais. Como isso aconteceu? Seus pais eram praticantes, professores?

Sim, meu primeiro contato com o Yoga foi em 1968. Eu tinha cinco anos na época e meus pais costumavam aos domingos afastar os móveis da sala para praticar juntos, foi em um destes domingos de “68” que tive meu primeiro contato com o Yoga e esta influencia de praticar em família me acompanha até os dias de hoje.

De que maneira a prática do Yoga transformou a sua vida?

Esta é uma pergunta difícil de responder, pois diferente da maioria das pessoas eu não me lembro da minha vida sem o Yoga para ter uma visão real da transformação. Mais acredito que como em todos os praticantes a pratica desde muito cedo em minha vida me proporcionou bem estar, tranqüilidade e consciência. Com certeza em função do Yoga sou um ser humano melhor do que seria sem a sua prática.

Além do Yoga, você se interessa por outros aspectos da vida e cultura indianas. O que exatamente você estudou?

Além do Yoga eu estudei sânscrito com o prof. Euri e o prof. kartikeya Mishra de Varanasi, meu primeiro contato com o Vedanta com o Swami Paratparananda do Vedanta Ramakrishna Ashram, estudei Samkhya e Tantra como Mestre Vagishta Shastra de Varanasi, mantra com o Swami Tattvaratnananda Sarasvati, Meditação com meu guruji Shibendu Lahiri, Alimentação ayurvédica com Vraja Devi e Anjali Pathak e Massagem Ayurvedica com o prof. Giorgio Biazzi entre muitos outros mestres com quem tive o privilégio de travar contato.

Quando percebeu que queria dedicar a sua vida à prática de Yoga e aos estudos da cultura indiana?

Como já foi dito meu primeiro contato com o Yoga foi aos cinco anos de idade e isto me possibilitou muito cedo optar por dedicar minha vida ao Yoga e a vastíssima e profunda cultura hindu.

Quais as principais diferenças que você nota entre a cultura indiana e a brasileira?

O fato de a cultura hindu ser uma cultura milenar possibilita ao indiano ter respeito por toda uma tradição, o que já não ocorre conosco que em relação a eles somos um país muito jovem e quase se tradições, a cultura indiana preza muito mais pelo respeito ao mestre, aos mais velhos, ao Yoga e a tudo que é sagrado enquanto que a nossa cultura ignora quase que por completo estes detalhes que são de suma importância.

Quantas vezes você foi à Índia? O que você gosta e desgosta no país?

Já estive em solo indiano por sete vezes e é muito difícil para eu dizer o que eu gosto e desgosto, pois gosto de quase tudo na Índia, adoro a energia do país, a comida, o povo, sua amabilidade, o carinho e o respeito com que eles tratam seus hóspedes, enfim pouquíssimas coisas me desagradam na Índia. Óbvio que depois de alguns meses em solo indiano o tumulto das cidades grandes e a insistência dos vendedores começam a incomodar um pouco mais quando isto acontece vou para Rishikeshe e ai fica tudo tranqüilo de novo.

O que essas viagens acrescentaram na sua vida?

Voltar da Índia é sempre uma experiência interessantíssima, pois a vida, a cultura e a realidade do dia a dia daquele país são tão diferentes da nossa que se torna impossível não voltarmos para o Brasil mais calmos, centrados e pacientes. Isto sem mencionar o contato transformador de estar na presença de seres realizados, por isto sem duvida alguma o fato de eu ter encontrado meu Guru Shibendu Lahiri foi de todas a maior das bênçãos recebidas em solo indiano.

Onde você fez o seu curso de formação?

Minha formação foi no Centro de Estudos de Yoga Narayana concluído em 1987.

Por que optou pelo Hatha Yoga?

Quando eu comecei a praticar, aqui no Brasil não havia muitas linhas de Yoga como hoje em dia, o Hatha Yoga era alinha mais divulgada, havia uma outra linha mais eu nunca tive muita simpatia por ela por isso optei pelo Hatha Yoga. Foi só no final dos anos oitenta que travei contato com o Kriya Yoga linha na qual fui iniciado anos mais tarde. Primeiro na linha de Paramahansa Yogananda e depois por Shibendu Lahiri bisneto do grande Yogi Lahiri Mahashaya.

Você também estuda o Iyengar Yoga. Que aspectos dessa linha você leva para sua aula?

Ter contado com o método Iyengar foi de fundamental importância tanto para minha pratica pessoal como para minhas aulas, pois prestar atenção ao alinhamento e a simetria na execução dos asanas fazem toda a diferença na minha opinião, sem contar que a utilização dos props, ferramentas que possibilitam a execução dos asanas para alunos que ainda por alguma razão não o pode fazer sem é de primordial importância para que este não se sinta excluído durante a execução de um asana mais complicado, ou mesmo um asana mais simples, mas que para o aluno no momento não é tão simples assim, isto faz com que ele participe de forma harmoniosa e tranqüila do andamento da aula. Outro aspecto importantíssimo é que o uso dos props possibilita fazer o mesmo asanas de formas variadas como, por exemplo, um Utthita Trikonasana que pode ser feito com o auxilio de uma parede, de um cinto de uma cadeira e assim por diante, todas estas variadas formas de fazer o mesmo asana estimula os neurotransmissores criando maior sinapse e nos tornando mais inteligentes e conscientes de nós mesmos e de nossa realidade.

Você dá cursos de formação de professores. O que é essencial para ser tornar professor? Quais os principais conselhos que dá para os seus alunos?

O fator essencial para se tornar um bom professor de Yoga é ter em primeiro lugar um grande amor por esta arte e modo de vida, em segundo profundo lugar um profundo respeito a esta tradição milenar que infelizmente vem sendo banalizada cada vez mais nos dias de hoje pelos charlatões em pele de ”mestres”.Os únicos conselhos que posso dar aos meus alunos é para que nunca parem de estudar e praticar, pois o universo do Yoga é vastíssimo e muito complexo o que implica em total comprometimento por parte do professor em relação ao Yoga, que sejam sempre honestos com sigo mesmo e com seus alunos, satya sempre!

quarta-feira, 18 de março de 2009

O Bhagavad Gita e o dia-dia


Existem muitas maneiras de se interpretar o Bagavad Gita, porem apenas uma aproxima-o do nosso dia-dia. Pelo fato de não sermos Hindus se o interpretamos apenas como um batalha que ocorreu em kurukshtra entre os Kurus, e os Pândavas à quase 5.000 anos atrás, talvez percamos a grande oportunidade de beneficiarmo-nos de todos os grandes ensinamentos contidos no Gita, tornando assim esta celebre obra um tanto quanto distante da nossa realidade. Porem se assim como Paramahansa Yogananda o faz em “Deus conversa com Arjuna”, interpretamos cada personagem do Gita como um dos aspectos existentes dentro de cada um de nós, trazemos cada vez mais o Gita para nosso dia-dia e percebemos que a batalha de Kurukshetra é na verdade a batalha que ocorre diariamente em nosso interior entre o “Bem” e o “Mal” ou melhor, entre a “Sabedoria” e a “Ignorância”, pois ambas se encontra o tempo todo dentro de todos nós.

Os personagens

Os personagens principais do Bhagavad Gita são: Krishna o “Ser Supremo” ou a “Consciência Suprema” e Arjuna que representa o homem eu seu estado evolutivo. O local onde a batalha tem lugar também é bem significativo; Kurukshetra e formada pela raiz sânscrita “Kr” que designa “trabalho, ação material e “Kshetra” que quer dizer “campo”, “esfera de ação”.Kurukshetra é então a representação do corpo humano com todas as suas faculdades.

No inicio do Gita o rei Dhrirtarashtra que representa a mente impulsiva e cega, a mente que mente, e por esta razão é representado como um rei cego, pergunta a Sanjaya, a consciência imparcial. “Ó Sanjaya, que fizeram os meus filhos e os filhos de Pându, depois de se reunirem no sagrado campo de Kurukshetra, estando desejosos de lutar?

Este primeiro verso do Gita descreve a batalha entre a inteligência descriminativa do “Eu” (os filhos de Pându) e as incontroláveis atividades da mente impulsiva e cega (os Kurus, ou os descendentes do rei cego Dhritarashtra).

Os Pândavas ou filhos de Pându são: Yudhishthira que representa a (calma), Bhima a (vitalidade, ou vontade espiritual), Arjuna o (autocontrole), Nakula a (lealdade) e Sahadeva a (prudência).
O exército dos Kurus que é liderado pelo filho mais velho de Dhrirtarashtra, Duryodhana que representa a (obstinação, e o desejo material), ainda conta com a presença dos seguintes soldados: Drona os (hábitos), Bhishma o (ego), Karna o (apego), Kripa a (ilusão), Ashvatthanam o (desejo latente), Vikarna a (repugnância, aversão), Bhurishvaras o (karma ou as ações materiais) e jayadratha o (apego ao corpo).

Nesta batalha diária ainda existe um grande agravante, alguns dos soldados do exército das más tendências impulsivas, além de serem em maior número, eles ainda possuem a capacidade de se mascarar e vir a parecer como um soldado das boas tendências descriminativas, como por exemplo, o que definimos como prudência pode muitas vezes ser apenas medo ou apego ao corpo, o que enxergamos como desapego, pode muitas vezes ser apenas uma aversão disfarçada de desapego e assim por diante.
Por isso Duryodhana diz no verso 9: do capitulo1 “Há muitos outros soldados que estão dispostos a sacrificar suas vidas pela minha causa (a obstinação dos desejos materiais). Todos estão bem equipados com diferentes tipos de armas, e são experientes na ciência das batalhas”.
No verso seguinte ele diz: “Nossa força é imensurável e estamos perfeitamente protegidos por nosso avô Bishma, ou seja, “o ego”, enquanto que a dos Pândavas, protegida cuidadosamente por Bhima, ou, a vontade espiritual, é limitada.
Estes versos demonstram o quanto nossas “más tendências” impulsivas tendem a se sobressair à nossa inteligência descriminativa.
Outro detalhe desta batalha é que em uma guerra real um soldado morto é um soldado morto e ponto, já na batalha interna muitas vezes pensamos ter eliminado algum destes soldados e quando menos esperamos, ele se apresenta em nossa frente e nos surpreende.
Por isso o yoga ensina a estarmos sempre conectados com o momento presente. Se quisermos vencer esta batalha não podemos nos esquecer disto nem por um instante, então, orai e vigiai!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Materia do site da Prana Yoga Journal

Um olhar sobre a Índia

Osnir Cugenotta fala sobre a experiência de visitar esse país.

Ir a Índia é sempre uma experiência inesquecível, não importa quantas vezes você já tenha ido, cada viagem nos proporciona infindáveis experiências inusitadas e riquíssimo aprendizados.
Estas experiências começam logo ao colocarmos os nossos pés para fora de um dos seus aeroportos com seus inúmeros taxistas querendo nos levar para um dos hotéis em que eles ganham suas comissões, cada um querendo ser mais astuto do que o outro e ganhar pela insistência.
Aí é hora de parar e dizer mentalmente:Atha Yoganushasanam, Agora começa o Yoga!
A Índia vem se transformado muito nos últimos quatorze anos desde minha primeira viagem e, recentemente mais ainda em função da globalização, porém uma coisa ainda continua imutável, a energia de determinados lugares sagrados como Varanasi, Rishikesh, Hahidwar entre muitos outros. Estar nesses lugares é sempre muito gratificante e transformador.
Além dos lugares sagrados, outra experiência marcante é o de travar contato com grandes yogis como é o caso de B.K.S.Iyengar, que só de estar na presença já traz transformações devido a sua energia adquirida pelos seus setenta e cinco anos de prática.
Há também muitos outros yogis bem conhecidos e outros menos famosos, porém não menos significativos como é o caso de Yogiraj Gurunath Siddhanath que também reside em Pune assim como o senhor Iyengar.
Todas as vezes que viajo para a Índia dois locais de visita não podem faltar em meu roteiro, um deles é Varanasi, pois meu mestre de Kriya Yoga Shibendu Lahiri, bisneto do grande yogi Lahiri Mahashaya mora lá.
É sempre muito especial praticar kriya em um local onde tantos buscadores da verdade já estiveram em busca da auto-realização.
Sem falar na energia que já esta impregnada em toda a residência pela presença de um ser realizado como Shrí Satya Charam Lahiri que morou em “satyalok”, nome da residência até o seu “Maha Samadhi” (abandono consciente do corpo realizado pelo yogi na hora da morte).
Pisar em um solo desses é uma experiência indescritível!Outro local muito especial é a cidade de Rishikesh, conhecida como a capital mundial do yoga.
Bem mais tranqüila que outras cidades da Índia ela é repleta de ashrams e escolas de Yoga, um ambiente perfeito para quem quer se dedicar aos estudos e a pratica do Yoga, sem falar nos banhos nas águas limpíssimas do Ganges nesta região que se encontra aos pés dos Himalayas.
As aulas de Iyengar yoga no Omkarananda Ashram, entre todas, em Rishikesh são as minhas preferidas, não só pela professora Usha Deví que é um ser humano muito especial, mas também pela localização da sala, pois esta tem vista para o Ganges e nas aulas do fim de tarde ainda podemos ouvir na hora do relaxamento final o “Arati” do Parmarth Niketan, ashram que fica na outra margem do rio.
Estar em solo Indiano é sempre uma experiência enriquecedora, seja dentro de um asharam, uma sala de aula ou na rua sempre se aprende muito não importa onde você esteja.